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O preço da (im)perfeição

Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon, escreve sobre a onipresente cobrança pela imagem perfeita sobre as mulheres

Ao ler esse texto me identifiquei muito com os relatos e ocorridos contatos pela Daniela, uma vez que não sou nenhum padrão de modelo, nem modelo, nem chamo atenção por aparência bela, me vi ali incluída nas estórias contadas. Desde criança eu fui a fofa... nem gorda, nem magra, nem alta, nem baixa... mas de alguma forma sempre apontada por alguma característica física que eu expunha, mas isso é da nossa geração... Será??? 

Daniela Grelin

Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às, 08h01. - https://exame.com/esg/o-preco-da-imperfeicao/

Juliette Binoche, a bela e admirada atriz francesa atualmente, com 59 anos de idade, tendo conquistado quatro Grand Slams, um Oscar e um César, além de uma carreira brilhante e notável, passou por uma experiência que parece não poupar nenhuma mulher. Durante uma entrevista concedida ao canal “Real Life – Portrait & Témoignages”, ela foi questionada sobre a passagem do tempo. Qual é o mais difícil, o rosto na tela ou o rosto no espelho pela manhã? Com uma sinceridade desagradável, respondeu: Sua indagação é mais complexa.

Durante as primeiras semanas da "casa mais vigiada do Brasil", Yasmin Brunet, 35 anos, foi alvo de comentários de seus companheiros de casa. Acho que já foi melhor. Ela está descuidada. Em outra ocasião, fazem piadas sobre os episódios de compulsão alimentar da sister: Preste atenção, estamos chegando ao sexto dia. Com essa compulsão, você vai sair correndo de casa.

Durante as semanas que antecederam o Carnaval de 2024, a atriz Paolla Oliveira se tornou um dos assuntos mais comentados na internet após a divulgação das imagens de sua participação nos ensaios da Escola de Samba Grande Rio, em que desfila como madrinha da bateria. Inconformados, os usuários do site foram implacáveis: "Braço de merendeira", "gorda", "de sem forma".

Não é novidade a perseguição e a agressividade dirigidas às mulheres que ousam se afastar dos padrões estéticos idealizados e inalcançáveis. O que esses três episódios mostram é o quanto essa cobrança é inexistente: não poupa nem as mulheres que são verdadeiras ícones de beleza. As críticas atingem, sem distinção, mulheres com diferentes níveis de violência, incluindo as beldades e as mulheres comuns, tanto aquelas que fazem tratamentos estéticos quanto aquelas que não fazem. Todas elas são apenas seres humanos.

Todos nós temos o direito de expressar nossas preferências estéticas, mas como isso se transformou em permissão para criticar de forma veemente e pública mulheres de todas as idades, profissões, etnias e biotipos? Quais são os efeitos dessa cobrança incessante em relação à autoconfiança, comportamentos e habilidades de mulheres e meninas no mundo, sem o direito de perdoar e esquecer a internet? As consequências são largamente conhecidas e frequentemente dramáticas e drásticas.

A exposição constante e a objetificação dos corpos femininos na mídia estão diretamente ligadas ao aumento da ansiedade generalizada, ao sentimento de vergonha, de inadequação e inadequação, resultando em isolamento, dismorfia corporal, distúrbios alimentares e depressão, contribuindo para a diminuição da autoexpressão, da alegria e da criatividade de gerações de mulheres.

Recusar os padrões estéticos estabelecidos socialmente, reconhecer e desafiar críticas veladas ou explícitas é uma tarefa que requer muita coragem, especialmente para personalidades públicas. Felizmente, a perseverança é uma qualidade inerente às mulheres, já que é necessário uma quantidade significativa dessa habilidade para manter a esperança e viver sem o peso dos preconceitos e em harmonia com as imperfeições.

Sentir-se bem em nossa própria pele é uma tarefa árdua, contudo, a jornada, além de ser libertadora, nos ensina a sermos mais generosos e gentis conosco mesmos. Percebemos que, ao fazê-lo, dámos permissão para outras mulheres desabrocharem também, em suas múltiplas expressões de beleza.